Doenças hematológicas associadas à exposições provenientes do ambiente, incluindo o do trabalho, e consumo de produtos nocivos revelaram-se um grave problema de saúde pública no século XX, especialmente na Europa e nos Estados Unidos, com destaque para a anemia aplástica e leucemias devido à sua alta letalidade (OLIVEIRA, 1990; GOLDESTEIN, 1998; COUTRIM, CARVALHO & ARCURI, 2000; REPERTÓRIO BRASILEIRO DO BENZENO, 2003).
No século XIX, já se observavam mortes por síndromes hemorrágicas em trabalhadores expostos a hidrocarbonetos aromáticos, especialmente benzeno, tolueno e xileno. O efeito leucemogênico do benzeno já é conhecido desde o início do século XX, onde alterações cancerígenas foram observadas, a partir de estudos experimentais, em animais (DEGOWIN, 1963; AKSOY, ERDEM & DINÇOL, 1974; AKSOY & ERDEM, 1978).
A partir do uso do petróleo, as indústrias petroquímica e química tiveram um grande desenvolvimento. Inicialmente, utilizado no esforço de guerra, esse foi também empregado, no período pós-guerra, na síntese de diversos materiais e substâncias, dentre elas os hidrocarbonetos aromáticos. Esses, por sua vez, entram na cadeia produtiva de uma gama incontável de produtos (agrotóxicos, fertilizantes, medicamentos, fibras sintéticas, plásticos etc.) utilizados de maneira cada vez mais crescente (AUGUSTO, 1984; NOVAES, 1992; HIBBS, WILBUR & GEORGE, 1995; FREITAS & ARCURI, 1996; COSTA & COSTA, 2002).
Esta grande utilização do petróleo, para a síntese química, fez surgir diversos problemas à saúde humana e ao ambiente de um modo geral. Para ilustrar a problemática sanitária de leucemias, decorrentes de exposição ocupacional/ambiental, principalmente ao benzeno, podemos verificar no Quadro 1, os principais estudos epidemiológicos realizados em diversos países, conforme, revisão elaborada por Augusto (1991):
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Quadro 1 – Resumo dos estudos epidemiológicos de leucemias devido
exposição ocupacional/ambiental ao benzeno
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1. O SANGUE: Considerações Gerais
1.1. Introdução
O sangue é a porção líquida do meio interno que circula rapidamente dentro de um sistema fechado de vasos denominado sistema circulatório. É constituído por um fluido no qual existem células em suspensão, moléculas e íons dissolvidos em água, apresentando propriedades das soluções coloidais. Uma característica importante do sangue é a constância da sua composição química e propriedades físicas, assegurando condições físicas para o funcionamento das células.Ele é constantemente renovado pela entrada e saída de substâncias que modificam discretamente sua composição. A constância da composição do sangue, com estreita faixa de variação, é o resultado mantido pela rapidez pela qual as substâncias deixam e entram no sangue quando estão em excesso ou em concentrações abaixo do normal respectivamente.
1.2. Composição do sangue
O sangue é constituído de duas frações combinadas, sendo 55% para o plasma e 45% para as células. A porção acelular ou plasma é constituído de 91,5% de água que serve de solvente das substâncias orgânicas e minerais e ainda de veículo para as células, moléculas e íons.Os restantes 8% são formados por proteínas, sais e outros constituintes orgânicos em dissolução.
A porção celular apresenta três tipos de células em suspensão no plasma:
•Glóbulos vermelhos, hemácias ou eritrócitos.
•Glóbulos brancos ou leucócitos.
•Plaquetas ou trombócitos.
1.3. Formação do sangue
Plasma: è a porção fluida do sangue não coagulado; contém os fatores da coagulação, exceto aquele removido pelo anticoagulante; é formado às custas da ingestão de água, de alimentos, da difusão e trocas líquidas entre os vários compartimentos do organismo.
Soro: é a porção líquida amarelada do sangue que resta após a coagulação e remoção do coágulo. Não contém elementos celulares nem a maioria dos fatores da coagulação. Apresenta em solução sais minerais, vitamina, glúcides, prótides, lípides, enzimas, hormônios, produtos anabólicos e catabólicos, substâncias também encontradas no plasma. A porção do sangue que não é o plasma ou seja , a parte celular, consiste de elementos figurados. Os elementos figurados incluem os eritrócitos (células vermelhas), vários tipos de leucócitos (células brancas) e plaquetas (trombócito).
2. HEMATOPOIESE
A palavra hematopoiese significa formação das células do sangue. Abrange o estudo de todos os fenômenos relacionados com a origem, com a multiplicação e a maturação das células primordiais ou precursora das células sanguíneas, à nível da medula óssea. A hematopoiese se divide em dois períodos:
1.Período Embrionário e Fetal: Iniciando no primeiro mês de vida pré- natal, surgem as primeiras células fora do embrião, são os eritroblastos primitivos.Na sexta semana, tem início a hematopoiese no fígado; o principal órgão hematopoiético nas etapas inicial e intermediária da vida fetal. Na fase intermediária da vida fetal, o baço e os nodos linfáticos desempenham um papel menor na hematopoiese, mas o fígado continua a dominar essa função. Na segunda metade da vida fetal, a medula óssea torna-se cada vez mais importante para a produção de células sanguíneas.
2. Período Pós-natal: Logo após o nascimento, cessa a hematopoiese no fígado, e a medula passa a ser o único local de produção de eritrócitos, granulócitos e plaquetas. As células-tronco e as células progenitoras são mantidas na medula óssea. Os linfócitos B continuam a ser produzidos na medula e órgãos linfóides secundários e os linfócitos T são produzidos no timo e também nos órgãos linfóides secundários. Ao nascer o espaço medular total é ocupado pela medula vermelha; na infância apenas parte desse espaço será necessária para a hematopoiese; o espaço restante fica ocupado pelas células de gordura. Mais tarde apenas os ossos chatos (crânio, vértebras, gradil torácico, ombro e pelve) e as partes proximais dos ossos longos (fêmures e úmeros) serão locais de formação de sangue.